Opavivará!


 
Plano-B Design

O PRAZER É NOSSO

Niterói (MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói) (2019)

   

O PRAZER É NOSSO

O título desta exposição resume de maneira precisa a trajetória de quinze anosdo OPAVIVARÁ!: o prazer, este substantivo historicamente desejado, mastambém reprimido, não é teu ou meu, mas nosso. Essa frase que pensa oprazer não a partir de um corpo, mas do compartilhamento de muitos traz em sia essência da trajetória do coletivo carioca nas artes visuais. O corpo humanoé o protagonista desta mostra e é a partir dele que os trabalhos aqui reunidossão experimentados pelos nossos sentidos.Esta é a primeira exposição de caráter antológico do OPAVIVARÁ! e, portanto,o público do MAC Niterói é convidado a dialogar com obras que compõem umpanorama de sua produção. O coletivo surge em 2004 e é importantelembrarmos que esse desejo de produzir arte de maneira coletiva possui umlastro histórico que nos remete, por exemplo, às vanguardas históricas doséculo XX. Nesse momento, artistas de diferentes origens se encontravam paraexperimentar, pensar o mundo criticamente e responder às tradições artísticasvistas como antiquadas. Da sua geração de coletivos de artistas, o OPA! seconfigura como um dos poucos que segue na ativa, mesmo com alterações nasua formação inicial. No que diz respeito ao contexto histórico de suaspropostas, o seu nascimento se deu paralelamente à crescente virtualizaçãodas relações humanas pela disseminação da internet – se as redes sociaisexistem para nos conectar virtualmente, as suas propostas convidam paraestabelecer conexões presenciais.A pesquisa do coletivo tem um enfoque central em atividades banaisrelacionadas ao prazer e/ou a necessidades vitais – comer, dormir, tomarbanho, fazer música, pedalar e ir à praia são alguns exemplos. O público éconvidado a realizar esses atos e encará-los como um ato artístico – seja juntoa pessoas conhecidas ou a anônimos que estão no mesmo espaço expositivo.Para tornar essas experiências possíveis, é interessante notar como o OPA! sevale da criação de trabalhos tridimensionais a partir da apropriação de objetosutilitários: cadeiras de escritório, por exemplo, são unidas e são a base de“Carrosel breique”, uma grande ciranda de assentos que gira coletivamente.Esses trabalhos reúnem algo de familiar, mas também estranho e é essa somaque apela para o desejo de experimentação do público. Diferentemente deoutras exposições em que o corpo do espectador fica na dúvida se pode ounão tocar nas obras mostradas, aqui, se não há interação, não há experiênciaartística. A arte do OPAVIVARÁ!, portanto, está certamente para além daexperiência pautada meramente na retina e pede, como diria Frederico Morais,que o corpo seja o motor da obra.Grande parte dos trabalhos reunidos nessa pequena retrospectiva estão nosalão central do MAC, mas o público notará tanto algumas de suas obras nopátio do museu, quanto também suas cadeiras de praia e cangas espalhadaspor diferentes áreas do prédio. Assim como a experiência social de se estar emuma praia, as proposições pensadas pelo coletivo também querem se dar aoportunidade de estarem dispersas e mesmo transportadas daqui para acolá.
Algumas raízes são bem-vindas, mas o excesso delas dificulta com quesaiamos de nossos lugares seguros.Por fim, além destes trabalhos que remetem não apenas à apropriação deobjetos, mas também ao importante lugar que a palavra e a poesia ocupam naprática do OPA!, achamos necessário trazer ao público uma seleção de vídeosde diferentes momentos de sua trajetória que demonstram a sua interseçãocom diversos usos do espaço público e privado. Longe do desejo detransformar esta exposição em um arquivo, era importante contar com essesvídeos que podem ser considerados já documentos dos últimos quinze anos dahistória das artes visuais no país.Essa exposição vai de encontro ao programa curatorial do MAC Niterói e seuinteresse pela equação entre lazer, prazer e artes visuais. Essas questõeseram latentes nas últimas duas exposições apresentadas no salão central –“Riposatevi”, de Lucio Costa e “Tempo aberto”, de Federico Herrero. A práticado OPAVIVARÁ! vai de encontro a essas reflexões e nos permite que relacionemos suas atividades com outros coletivos na América Latina e emoutras áreas do mundo. A união certamente faz a força.

Curadoria: Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca